Mentirinhas

Mentiras são terríveis e não são legais, entretanto, todos já contaram uma, mesmo que em pequenos eufemismos, ou tentativas de engrandecer coisas não-tão-grandes, se é que me entendem.

Num dos intervalos de um show, olhei para uma garota, que estava atrás do meu amigo, tive a sensação que já tinha visto ela. Deixei pra lá, pois minha memória é boa, então, se eu não lembrava dela, ela menos ainda de mim.

Não se deixe levar pelo tempo psicológico do texto, porque dois segundos depois que a vi, ela se tele transportou para o meu lado. Já chegou perguntando “Oi, Willian, lembra de mim?”. Na hora juro que vi muita esperança em seus olhos. Olhei pálido para meus amigos e com uma cara de desespero respondi, “Quem é você, filha de Deus?”. Nesse instante ela ficou abaixou a cabeça e se retirou. Eu vi a esperança se transformar em tristeza.

O sofrimento da garota poderia ter sido evitado, ou até aumentado se não fosse a maldita mentirinha, que dessa vez foi por educação. Educação essa questionável, mas a situação era a seguinte:

No momento que ela abriu a boca para falar comigo, me lembrei da onde a conhecia, porém não lembrava seu nome. Nós estudamos juntos há três milênios atrás, e só lembrava que ela usava um tênis roxo, feio pra caralho, e, por isso, ganhou o singelo apelido de “berinjela”. Era a única coisa que lembrava, não podia chamá-la assim, tinha muito tempo que não falava com a menina.

E outra ISSO FOI NA 4ª SÉRIE.

Deixe-me esclarecer uma coisa, na 4ª série não existem nomes, mas sim identidades – provavelmente alguma característica sua que não é bem vista na sala. Se ela perguntasse “Oi, Willian, lembra do meu apelido?”, aí sim eu responderia sem nenhum problema de escolher a resposta menos indelicada. Falaria a verdade, ao invés  de me esconder atrás de mentiras.

Eu ainda tive uma idéia para obter a redenção divina: Pular igual um maníaco na frente dela e gritar “pegadinha do malandro, berinjela”, mas desisti da idéia.